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In O livro de Cesário Verde


Cristalizações
"Faz frio. Mas, depois duns dias de aguaceiros,
Vibra uma imensa claridade crua.
De cócoras, em linha, os calceteiros,
Com lentidão, terrosos e grosseiros,
Calçam de lado a lado a longa rua."


Cesário Verde
© Wiki Educação

          Hoje é dia de um post diferente, mas temos sempre a calçada e os calceteiros como ponto de partida.
      Vamos fazer uma curta análise ao excerto do poema “Cristalizações” de Cesário Verde, excerto este que nos fala dos calceteiros e na sua arte.
       Esperamos que gostem desta curta abordagem ao tema.
    No período em que viveu Cesário Verde (1855-1886), Portugal estava em profunda transformação. 
        Ele pertenceu à época literária do romantismo (2ª metade do século XIX), do período realista.
       Neste poema, Cesário Verde vai deambulando pela rua, onde vai encontrando trabalhadores de diferentes profissões. Vai falando deles e descrevendo as suas condições de trabalho.
        Logo no primeiro excerto, o poeta faz referência aos calceteiros trazidos da prisão, aguilhoados para calcetarem as ruas de Lisboa.

Praça Dom João da Câmara (1907)
© Lisboa de Antigamente


       Estes homens trabalhavam de sol a sol independentemente da estação do ano, construíam ruas onde predominava a pedra branca dando assim uma “imensa claridade crua” às ruas de Lisboa e que juntamente com os “ dias de aguaceiro” o tapete empedrado destas ruas fica brilhante e cristalizado.

       Estes “guilhetas” estavam de “cócoras”, nem sequer tinham o banquinho de calceteiro e eram obrigados a trabalhar em “linha” e em equipa, estando acorrentados tinham forçosamente de manter a fila.
Praça Dom João da Câmara (1907)
© Lisboa de Antigamente

       Devido ao esforço despendido, os prisioneiros teriam os seus movimentos muito mais lentos do que os homens libertos, daí a “lentidão” referida. Cesário Verde realça ainda a aparência dos calceteiros como “terrosos” pois para ele estes homens adquiriam o tom da terra e da pedra ainda por limpar, quase que faziam parte do próprio chão. Eram calceteiros “grosseiros”  pois a  situação em que se encontravam era penosa e para se chegar a calceteiro era necessário começar a profissão muito cedo dado que mais tarde as articulações das mãos já não lhes permitia flexibilidade, tornando-se desajeitadas para o ofício.

     Para Cesário Verde ver é perceber o que se esconde, por isso, ele vê a cidade minuciosamente através dos sentidos e faz a perfeita descrição dos calceteiros “guilhetas” da cidade de Lisboa em pleno século XIX.
      Neste poema temos uma referência a esta humilde mas nobre profissão e já também muito antiga que se viria a tornar numa profissão de grande mestria e qualidade.




In O livro de Cesário Verde


Cristalizações  [Crystallizations]


«It´s cold. But, after a few days of showers,

Throbs a raw clarity so wide.

Squatting, aligned, the pavers,

Slow, earth-colored and coarse,

Pave the long street side to side.»

…/…

        Obs: Tradução da estrofe retirada do livro «Calçadas de Portugal/ Simetria passo a passo» de Ana Cannas da Silva .
        Verse translation taken from the book «Sidewalks of Portugal/step by step Symmetry» by Ana Cannas da Silva.




      Today it is a different post day, but we always have the pavement and the Portuguese Pavement Craftsman as a starting point.
       Let's make a short analysis of the excerpt from the poem "Crystalizations" by  Cesário Verde, an excerpt that tells us about the Portuguese Pavement Craftsmen and their art.
       We hope you enjoy this short approach to the theme.
       In the period when Cesário Verde lived (1855-1886), Portugal was in deep transformation. He belonged to the literary age of Romanticism (2nd half of the nineteenth century), from the realist period.
      In this poem, Cesário Verde goes walking the street, where he finds workers of different professions.       
        Talk about them and he describes their working conditions.
      In the first excerpt, the poet refers to the Portuguese Pavement Craftsman brought from the prison, they were stucked and they paved the lisbon streets.
Avenida da Liberdade (1907)
© Lisboa de Antigamente

        These men worked from sundown to sundown regardless of the season, they built streets where the white stone predominated, thus giving a "raw clarity so wide" to the streets of Lisbon and along with the "days of showers" the pavement  carpet of these streets is bright and crystallized.
        These "guilhetas" were "squatting", they did not even have the stool and they were forced to work “aligned" and in team, they were chained so they had to keep in line.
        Due to the effort spent, the prisoners would have their movements much slower than the free men, hence the "slow" he referred . Cesário Verde also emphasizes the appearance of the Pavement Craftsmen as "earth-colored" because for him these men acquired the tone of the earth and the stone still to be cleaned, they were almost part of the ground. They were "coarse" pavement craftsmen because they were in a  painful situation and to get to a pavement craftsman it was necessary to start the profession very early, if it was more later  the joints of the hands no longer allowed them flexibility, becoming awkward for the craft.
Rua Doutor Nicolau de Bettencourt (1957)
© Lisboa de Antigamente

         For Cesário Verde to see is to understand what it is hidden, therefore, he sees the city through the senses and he makes the perfect description of the "guilhetas" of Lisbon city in the XIX century.
In this poem we have a reference to this humble but noble profession and it is already very old that would become a profession of great mastery and quality.


Poema "Cristalizações", Cesário Verde

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