A arte de calcetar foi desde sempre uma profissão genuinamente portuguesa e intimamente ligada ao nosso património cultural. Com história e para a história, a Calçada Portuguesa é hoje uma obra de arte apreciada pelo mundo inteiro. Uma herança histórica que recebemos e que continuamos a dar valor, criando novos projetos para manter e melhorar aquela que é, um dos símbolos mais icónicos de Portugal.
Na época de expansão, o próspero desenvolvimento comercial centra-se em Lisboa.
A calçada portuguesa é uma herança histórica da cultura e da tecnologia de construção dos romanos, que se impôs em Portugal no século XIV durante o reinado de D. João II.
Com as características de aspeto com que hoje a conhecemos, a Calçada Portuguesa teve como seu grande impulsionador o governador do Castelo de S.Jorge em Lisboa entre 1840 e 1846, o Tenente General Eusébio Cândido Pinheiro Furtado, que em 1842 transformou a fortaleza e os seus arredores em lugares de passeio onde foram introduzidas flores e calçada mosaico, utilizando como mão-de-obra dos presidiários do Castelo, chamados por “guilhetas”, que assentaram um tapete de pequenas pedras de calcário branco, cortado a espaços por linhas de pedras de basalto negro, num desenho em ziguezague.
O efeito obtido foi tal que que levou a Câmara a reconhecer o excelente trabalho do engenheiro Militar Eusébio Furtado, profundo conhecedor das técnicas romanas. Em 1848, viu aprovado o seu projecto para a Praça do Rossio, uma obra com uma área, concluída em 323 dias, onde foi introduzido o calcetamento, usando apenas calcário “vidraço”, branco e negro, designado por “Mar Largo” em homenagem aos descobrimentos.
A Baixa de Lisboa transforma-se com a maioria das suas ruas a serem calcetadas a basalto, entre elas o Largo de Camões em 1867, o Príncipe Real em 1870, a Praça do Município em 1876, o Cais do Sodré em 1877 e o Chiado, finalizando em 1894. A abertura da Avenida da Liberdade dá-se em 1879 e em 1908 chega finalmente ao Marquês de Pombal com largos passeios onde foram introduzidos belos e deslumbrantes tapetes de desenhos, que fazem de Lisboa a cidade referência deste tipo de pavimento artístico.
Hoje, a calçada nascida em Lisboa, Portugal está presente em todo o Mundo, em cidades como Rio de Janeiro (o famoso “Calçadão”), Luanda, Maputo, Macau, Nova Iorque, entre outras.
Atualmente é reconhecida e apreciada internacionalmente como uma manifestação bem-sucedida da nossa cultura Portuguesa.
A técnica
Os calceteiros tiram partido do sistema de diaclases do calcário para, com o auxílio de um martelo, fazerem pequenos ajustes na forma da pedra, e utilizam moldes para marcar as zonas de diferentes cores, de forma a que repetem os motivos em sequência linear (frisos) ou nas duas dimensões do plano (padrões). A geometria do século XX demonstrou que há um número limitado de simetrias possíveis no plano: 7 para os frisos e 17 para os padrões. Um trabalho de jovens estudantes portugueses registou, nas calçadas de Lisboa, 5 frisos e 11 padrões, atestando a sua riqueza em simetrias.
Destacam-se as técnicas de aplicação de calçada mais comuns: a antiga calçada à portuguesa, que se caracteriza pela forma irregular de aplicação das pedras; o malhete, semelhante mas com mais espaço entre as pedras; a calçada portuguesa clássica, que tem uma aplicação em diagonal, segundo um alinhamento de 45 graus com os muros ou lancis; a calçada à fiada, com as pedras alinhadas em filas paralelas; a calçada circular; a calçada sextavada; a calçada artística, que se caracteriza pela aplicação de pedras com formatos específicos e/ou pelo contraste de cores; o Mar Largo; o leque segmentado; o leque florentino; e o rabo de pavão.
Os desenhos
Durante muito tempo os desenhos foram elaborados por amadores com muita perícia, tendo geralmente como base motivos tradicionais ligados ao grande feito dos portugueses - os Descobrimentos.
Caso há, em que os próprios mestres calceteiros adaptaram anovos espaços ingenuamente, misturando, alargando, comprimindo e alterando os moldes pré-existentes.
A partir dos anos 50, alguns artistas foram convcidados a desenhar motivos destinados à calçada portuguesa.
Nos dias de hoje o papel dos arquitetos é fundamental na conceção de motivos a aplicar a espaços em recuperação, como naz zonas antigas das cidades portuguesas.
Os mestres calceteiros distinguem vários tipos de aplicações de pedra, sendo as mais utilizadas: a calçada à portuguesa (caracterizada pela forma, tamanho e aplicação irregular das pedras), o malhete (semelhante à calçada à portuguesa mas com mais espaço entre as pedras), a calçada portuguesa (em pedra de calcário de cor branca, com os motivos na cor preta e na cor cinzenta, cortada em cubos 5x5 e assenta de forma regular na horizontal), a calçada portuguesa artística (caracteriza-se pela aplicação de pedras de calcário com formatos específicos e pelo contraste das cores), a circular (caracterizada pela colocação de pedras em círculo), a sextavada (a pedra tem forma do hexaedro, e assenta-se como em favo. Encontra-se nos trabalhos mais antigos), entre outras.
São os próprios mestres que criam e desenvolvem novos tipos de aplicação da pedra consoantye o gosto e estilo profissional.
Em geral, a calçada mais utilizada e apreciada é a calçada portuguesa artística, sendo que nesta, são aplicados vários tipos de corte de pedra, em várias cores, conforme a necessidade do desenho.
Os calceteiros
Quando começaram os primeiros trabalhos da calcetamento em Lisboa, o povo que se surpreendia com esta nova arte esculptórica de pavimento juntava-se para admirar o trabalho. Admiração e curiosidade que se mantêm até aos dias de hoje.
Ainda hoje, ao pisarmos as calçadas, a maior parte das pessoas não dão o devido valor a estes profissionais que durante um dia de trabalho conseguiram resistir numa posição que os obrigava a uma flexibilidade extrema dos membros inferiores e também a sua resistência ao sol. A rapidez com que conseguiam o desenho geométrico pretendido na pedra é outra das caracteristicas surpreendentes destes homens que trabalhavam arduamente nesta arte, e que com apenas “duas marteladas” a obra ficava pronta.
Mais tarde, em 1986, foi criada pela Câmara Municipal de Lisboa, uma Escola de Calceteiros com o único objetivo de formar profissionais, e eninar-lhes os saberes de velhos mestres e assim assegurar a “sobrevivência” da calçada portuguesa.
É de enaltecer o trabalho destes homens quie fizeram da Calçada Portuguesa uma obra e arte apreciada em todo o mundo.
Artigo: http://www.mundoportugues.org/article/view/63846
Fotos: Roc2c
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