Avançar para o conteúdo principal

"Amado e odiado, calçadas de petit-pavé resistem desde o Império Romano"

"Amado e odiado, calçadas de petit-pavé resistem desde o 
Império Romano

Herdeiros da civilização romana, os portugueses aplicaram a estética do mosaico às suas calçadas



   O petit-pavé está no dia a dia do curitibano. Mas você sabe quando começou a história dos mosaicos portugueses? Foto: Daniel Castellano / AGP / Agencia de Noticias Gazeta do Povo



O chão que pisamos

   Tanto quanto permitem saber minhas viagens terrenas e astrais, as calçadas e pavimentos executados com pequenas pedras remontam ao Império Romano. Na verdade, é uma prática muito óbvia para que ninguém a tenha pensado antes —mas, como pedigree para uma ideia, o Império Romano já está ótimo.

   Embora esses calçamentos possam ser vistos em logradouros anteriores à cisão que deu origem ao Império Romano do Oriente — por exemplo, Óstia —e respectiva cultura bizantina, temos nesse momento um apogeu de formulações espaciais adjacentes: exemplo maior, o mosaico. Herdeiros da civilização romana, os portugueses — e não só eles — vão aplicar a estética do mosaico, devidamente adaptada, às suas calçadas. Há uma perda na capacidade de detalhar, que se compensa na estilização.

   No império português, como no filipino, “o sol jamais se punha”: e as calçadas portuguesas rodaram o mundo, onde se desejava um piso com trabalho mais refinado e elegante. No Brasil, são famosas as calçadas da Avenida Atlântica, com desenho lisboeta, mas o encontramos em muitas cidades com distritos históricos.


Petit-pavé em mosaicos de Lisboa. O calçamento que encanta em várias cidades do mundo remonta ao Império Romano. Foto: Marialba Gaspar Imaguire


   No caso de Curitiba, esse calçamento é particularmente importante: iniciou-se seu uso na cidade na década de vinte do século 20. Era um momento de preocupação, em vários estados brasileiros, com as identidades regionais. Na falta de figuras emblemáticas como o Bandeirante, o Gaúcho ou o Cangaceiro, os paranaenses vão buscar na natureza — na então dominante Floresta de Araucária — formas para alimentar o movimento que veio a se chamar “Paranismo”.

   Esta crônica não é o momento para desenvolver a questão, já trabalhada dentro e fora da Academia. Diremos apenas que não durou o quanto merecia — ou deveria. E, entre as muito poucas marcas que deixou, os padrões decorativos no que chamamos de petit-pavé são os mais importantes. São uma presença marcante dentro das nossas paisagens urbanas mais tradicionais do centro da cidade.

   Nem todos os desenhos das “calça das portuguesas curitibanas” remetem ao Paranismo — mas, como bem demonstrou a arquiteta Lucia Vasconcelos, são diversas as origens que resultaram nas estilizações que conhecemos.

   Mas — enfatizando — ainda que aviltados, maltratados e denegridos são a última testemunha daqueles tempos, que se aproximam do centenário. Ótimo momento para uma ação de resgate, valorização e até, retomada com novas propostas estéticas — mesmo porque, há muita calçada insípida, culturalmente inexpressiva, na cidade. Nem dá gosto de pisar…"

Comentários

Mensagens populares deste blogue

Praça do Município, Lisboa / Municipal Square, Lisbon

   A Praça do Município tem lugar na freguesia de Santa Maria Maior, na Rua do Arsenal, em plena Baixa Pombalina e com a Praça do Comércio a oeste. Aqui está o edifício dos Paços do Concelho com a sede da Câmara Municipal de Lisboa e no seu centro localiza-se o Pelourinho de Lisboa.    Esta praça foi palco, no dia 5 de outubro de 1910, da proclamação da república perante milhares de pessoas. Ainda hoje, as comemorações da Implantação da República realizam-se aqui.   A Calçada Portuguesa é um dos ex-libris da cidade de Lisboa. É uma forma de arte urbana que apaixona e surpreende turistas, habitantes locais e conhecedores desta matéria.    Em plena Praça do Município e em frente à Câmara, as linhas geométricas encaixam com a forma ortogonal da praça e estão colocadas no chão em forma de raios. O atual pavimento desta praça é de 1997, e o desenho é da autoria do pintor Eduardo Nery. O artista quis criar um desenho geométrico para que parecesse um longo “tapete” com um padrão d

Ilha de São Miguel, a ilha das calçadas com desenhos e simetrias de pedra vulcânica

Fotos da calçada portuguesa pela Ilha de São Miguel Maçarocas em calçada Largo da Matriz, Ponta Delgada Friso em calçada Rua dos Mercadores Rua Doctor José Bruno Tavares Carreiro Avenida Infante Dom Henrique Nossa Senhora das Neves 1935 Largo de Gaspar Fructuoso, Ribeira Grande Parque da Ribeira Grande Alice no Pais das Maravilhas Caravela calçada Furnas 1947 Fotos: Roc2c Junho 2016

Bairro Alto & Chiado Lisbon's cultural and bohemian heart; nightlife and shopping mecca

ทางเดิน โปรตุเกส