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As primeiras praças com Calçada Portuguesa em Lisboa - Parte I

Após a primeira obra em Calçada Portuguesa na cidade de Lisboa, no castelo de S. Jorge, seguiu-se entre 1848 e 1910 importantes obras de requalificação e adorno nas zonas mais nobres da cidade.

Esta decisão por oferecer à cidade novos e magníficos trabalhos decorativos em Calçada Portuguesa foi consequência do extraordinário impacto que a obra no castelo de S. Jorge teve nos habitantes da cidade, realizaram-se romarias para a visitar, associando-se aquele trabalho a uma modernidade que a Lisboa oitocentista estava apta a acolher.
1842 Castelo S Jorge © Paulo Guedes a.f. C.M.L.
As praças foram as primeiras a receberem esta nova forma de adorno e cuidado, o serem espaços públicos amplos e de permanência intencional das pessoas conferiu-lhes uma visibilidade e relevância notórias, importantes para a disseminação desta arte a outras cidades do país e além-fronteiras.

A primeira praça a ser requalificada é a Praça do Rossio, em 1848, sob projeto e orientação do mesmo Engenheiro militar, Tenente Coronel Eusébio Cândido Pinheiro Coelho Furtado que iniciara anos antes esta arte na parada do Castelo de S. Jorge.
O desenho escolhido apresentava-se como um tapete, no centro uma sequência alternada de ondas pretas e brancas que procurou homenagear os descobrimentos portugueses, apelidada de Mar Largo, ladeado por uma barra com motivos clássicos que encerrava o grupo.


1864 Rossio © Eduardo Portugal
1880 Rossio Lisboa  © Seixas AFL
Durante 323 dias foram calcetados com calcário preto e branco os 8712 m2 da praça.
O que encontramos atualmente na praça do Rossio é a reposição da totalidade do tapete infelizmente sem a sua barra que encerrava elegantemente o conjunto, esta reposição veio repor o que tinha sido retirado, reduzindo o tapete de pedra em 1925, a uma pequena área ao redor da estátua do D. Pedro.

1919 Rossio © Ferreira da Cunha
No ano seguinte, em 1849 segue-se a Praça Duque da Terceira no Cais do Sodré, zona anteriormente chamada de Remolares, por ter sido uma área de construção e reparação de caravelas na época dos descobrimentos portugueses. Em 1755, após o terramoto foi reconstruída toda esta zona e esta praça apelidada de Praça dos Remolares, tendo existido no seu centro até 1852 um relógio de sol assente sob um pedestal, calcetada invulgarmente com a predominância de pedra escura. E só nos finais do séc. XIX é que a praça foi renomeada para Praça Duque da Terceira em homenagem a este homem que comandou as tropas constitucionais aquando as guerras liberais, lembrado até aos dias de hoje na estátua em sua honra da autoria de José António Gaspar e colocada na praça entre 1872 e 1877. A zona envolvente à praça – Cais do Sodré – deve o seu nome a uma família do séc. XV que aí habitou.
1867 Praça Duque da Terceira © AFL
Inicio do Aterro da Av. 24 de Julho, a Praça ainda sem a estátua mas arborizada e com Calçada Portuguesa

1888 Praça Duque da Terceira © AFL
Em 1863 é a vez do Largo do Carmo, este largo teve, durante os vários séculos, a invulgaridade de ver alterado o seu nome por diversas vezes. Em 1649 era conhecido como Terreiro do Marquês; em 1663 por Terreiro do Bairro do Marquês; em 1671 por Largo do Marquês; em princípios do séc. XVIII por Terreiro do Carmo seguido de Adro do Carmo e só em 1716 este largo viria a ser nomeado de Largo do Carmo tendo permanecido até à atualidade. Em 1777, depois do terramoto, surge a praça do Carmo, ainda que tivesse à altura menos de metade do tamanho atual. Em 1863 o seu tabuleiro é calcetado com recurso a desenhos geométricos e rodeado por via pública pavimentada a basalto.

1903 e 1908 Largo do Carmo © Charles Chusseau-Flaviensin- vendedor de galinhas

A 9 de Outubro de 1867 é inaugurada a Praça de Camões, ou Praça Luís de Camões, em homenagem ao poeta português, urbanizada em 1859 depois da remoção das ruínas do velho Palácio do marquês de Marialva e do Loredo e empedrada em Calçada Portuguesa com efeitos geométricos e desenhos alusivos ao mar, a sereia e a caravela, ao seu centro a estátua do poeta ricamente ornamentada no seu pedestal com pedra de lioz, confirmando a importância deste local anexa-se ainda o facto da primeira pedra do local ter sido colocada na presença do rei D. Luís I em 1862.
1910 Largo Luís Camoes Lisboa © Joshua Benoliel AFL
Bibliografia consultada:
- O CARMO E A TRINDADE" de Gustavo de Matos Sequeira -Volume I, II e III. -1939(1ª Ed.) (2ª Ed.1967)- São Publicações Culturais da Câmara Municipal de Lisboa
- Blog: Ruas de Lisboa com alguma história; Lisboa de antigamente; Paixão por Lisboa;
- Olisipo (hemeroteca digital da Câmara Municipal de Lisboa).

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